ouvi várias vezes mestre chico de assis dizer
que não deves dormir em teu quarto
mas entre as estrelas da galáxia
do velho mestre farei o caminho de volta
não deves acordar nas galáxias
deves despertar de teu sono cada manhã
bem na terra de chão batido de uma tortuosa
estrada de minas
nas areias de uma praia deserta
junto às raízes de árvores amazônicas
cheirando o cheiro do estrume
e das águas mornas das cacimbas
sentindo nos pelos os ventos dos pampas
ouvindo o cantar da seriema
nos alagados do pantanal
deves despertar de teu sono de estrelas e luas jupterianas
pronto para as tormentas dos teus passos
num cavalo bravio a voar vestígios de vozes
de mil mortes em madeiros podres
deves tu saber que assim como o vento sopra bravio
e depois em brisas se esvai
a tua vida é sopro ou suspiro de néctar no bico do colibri
deves por ela passar ao compasso breve do pio da juriti
o pó das estelas de sonho leve
cobrirá teus olhos para tudo que ao teu redor palpita e vive
e tudo
tudo que palpita e vive em torno de teus suspiros de outono
continuará vivo e palpitando depois de ti
27.3.2018
(Ilustração: August Macke)
(Ouça este poema, na voz do autor, neste endereço de podcast:
Muito bom essa inversão de sentido no movimento, querido Isaías … a expansão e a síntese. Nos remete ao verso de Rumi: “Vc não é só uma gota no oceano. Vc é o próprio oceano numa gota”
ResponderExcluirAbração,
ResponderExcluirNabil