3 de mai. de 2018

poeira de estrelas









ouvi várias vezes mestre chico de assis dizer

que não deves dormir em teu quarto

mas entre as estrelas da galáxia



do velho mestre farei o caminho de volta



não deves acordar nas galáxias

deves despertar de teu sono cada manhã

bem na terra de chão batido de uma tortuosa

estrada de minas

nas areias de uma praia deserta

junto às raízes de árvores amazônicas

cheirando o cheiro do estrume

e das águas mornas das cacimbas

sentindo nos pelos os ventos dos pampas

ouvindo o cantar da seriema

nos alagados do pantanal



deves despertar de teu sono de estrelas e luas jupterianas

pronto para as tormentas dos teus passos

num cavalo bravio a voar vestígios de vozes

de mil mortes em madeiros podres



deves tu saber que assim como o vento sopra bravio

e depois em brisas se esvai

a tua vida é sopro ou suspiro de néctar no bico do colibri



deves por ela passar ao compasso breve do pio da juriti

o pó das estelas de sonho leve

cobrirá teus olhos para tudo que ao teu redor palpita e vive

e tudo

tudo que palpita e vive em torno de teus suspiros de outono

continuará vivo e palpitando depois de ti



27.3.2018


(Ilustração: August Macke)

(Ouça este poema, na voz do autor, neste endereço de podcast:




2 comentários:

  1. Muito bom essa inversão de sentido no movimento, querido Isaías … a expansão e a síntese. Nos remete ao verso de Rumi: “Vc não é só uma gota no oceano. Vc é o próprio oceano numa gota”

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  2. Abração,
    Nabil

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