numa funda furna de meu ser
encontrei escolhos inabaláveis
desejos ocultos e anseios desgarrados
pedaços de antigas paixões
e no meio de tudo o meu profundo desencanto
naquela furna de meu ser o meu cérebro
embaralha vidas vividas e há tanto tempo desfalecidas
que o abalo de as lembrar enterra um pouco mais
o espinho das longas caminhadas por estradas sem fim
descubro nessa furna o meu entristecer de águas
que não moveram moinhos nem se encachoeiraram
transformadas em lagos escuros e fundos onde corroem
os sentimentos que julgava os melhores da minha existência
não desejo o vento que vem com venenos de antanho
mas lá está a brisa constante a soprar aos meus ouvidos
que não terei um segundo de paz nesta vida se não remover
os escolhos e os restos naufragados nessa funda furna de meu ser
2.3.2018
(Ilustração: Alyssa Monks)
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