25 de mai. de 2018

furna







numa funda furna de meu ser

encontrei escolhos inabaláveis

desejos ocultos e anseios desgarrados

pedaços de antigas paixões

e no meio de tudo o meu profundo desencanto



naquela furna de meu ser o meu cérebro

embaralha vidas vividas e há tanto tempo desfalecidas

que o abalo de as lembrar enterra um pouco mais

o espinho das longas caminhadas por estradas sem fim



descubro nessa furna o meu entristecer de águas

que não moveram moinhos nem se encachoeiraram

transformadas em lagos escuros e fundos onde corroem

os sentimentos que julgava os melhores da minha existência



não desejo o vento que vem com venenos de antanho

mas lá está a brisa constante a soprar aos meus ouvidos

que não terei um segundo de paz nesta vida se não remover

os escolhos e os restos naufragados nessa funda furna de meu ser



2.3.2018



(Ilustração: Alyssa Monks)



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