3 de jul. de 2010

POEMAS DE LOUCO AMAR -2



Quero ser dono de meus sonhos






Quero ser dono de meus sonhos
mas não quero controlá-los:
meus sonhos são meus apenas
e nada mais.
Se são sonhos proibidos,
não há nem pode haver
quem os proíba. Só eu
posso encobri-los no mais fundo
do meu ser.
Sonhar é navegar teus olhos,
teu cheiro rever e tocar
tão forte em minhas narinas
tão forte em meus sentidos.
Somos - eu sei - caminhos
que talvez jamais se encontrem.
Mas nem por isso
meus sonhos devam ter menos cores.
Se mergulho neles em transe,
em transe de te amar quero viver,
mesmo tendo um abismo,
um abismo cafona e tangível,
a separar nossas vidas
num trágico desfecho de tango argentino.
Quero sonhar teus lábios,
quero sonhar teu rosto,
livre a mente a pensar loucuras
ou a escrever inúteis poemas
de saudade.
Longe estás - não me verás sofrendo.
Longe, não sentirás os beijos
os carinhos
que te daria, se aqui pudesses estar.
Não quero da minha vida
o inferno da distância e do desamor.
Quero poder, pelo menos,
sonhar-me a teu lado e sorrir
sem mágoas e sem a ninguém magoar.
Como o sonho é só um sonho,
escrevo - louco - (palavra recorrente) -
sonhos que não posso viver.
Na noite a chuva não molha mais
o meu rosto que as lágrimas - invisíveis -
que por ti choro.
E imploro um fim, não ao amor - irônico -
- trágico - tragicômico - que por ti
eu sinto, mas aos momentos de saudade
que tantas vezes sinto a torcer
minhas entranhas: não queria amar-te.
Se te amo ao amor ergo em mim
o altar onde imolo o meu próprio sangue.
E torno-me romântico e trágico
e cada vez mais louco
em louco desabafo.
Mas é assim o meu sonho
é assim que consigo viver e fingir.
Mil máscaras ponho e recomponho,
em vários palcos a repetir
papéis de todos os matizes
eternamente a representar.
E no meu sonho tu sorris,
sorris talvez de tudo o que eu sinto.
Não importa: és estrela
(de dourada beleza - gostaria de dizer,
num ímpeto de poeta do século passado)
e como estrela estás
a mil anos-luz do meu esgar.
Sabes que te desejo - não só amante -
não só aventura - não só relâmpago -
mas Lua - variada e constante -
em minha noite vida ou vida noite,
a trazer paz ao conturbado coração.
Desculpa tanta besteira,
desculpa tanta verdade:
o amor é assim: vil e idiota,
como a vida.


5.1.93


(Ilustração: Picasso)

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