14 de out. de 2015

COMPONHO POEMAS COMO QUEM SANGRA



(Foto de Fátima Alves)





Componho poemas como quem sangra


o sangue telúrico de um povo sofrido


abrindo feridas novas sobre a cicatriz


das velhas minas de um tempo perdido.






Os deuses não me deram o dom de ser feliz


mas deixaram em mim a possibilidade


de extravasar a dor e a tristeza


através de palavras mortas pela idade.






Não há lugar em meus versos para a beleza


e o meu canto é duro como a pedra


rude como o matagal da montanha


onde a flor suave da campina não medra.






Componho poemas como quem estranha


a própria sonoridade das palavras


não sabendo mineirar do pó o ouro


que escorre enganoso das lavras.






Minha dor, no entanto, não esconde o tesouro


de sentimentos profundos que explodem


em ódio, angústia e desespero


a ofuscar o brilho de minhas próprias palavras.




BH 29.10.75

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