(Foto de Fátima Alves)
Componho poemas como quem sangra
o sangue telúrico de um povo sofrido
abrindo feridas novas sobre a cicatriz
das velhas minas de um tempo perdido.
Os deuses não me deram o dom de ser feliz
mas deixaram em mim a possibilidade
de extravasar a dor e a tristeza
através de palavras mortas pela idade.
Não há lugar em meus versos para a beleza
e o meu canto é duro como a pedra
rude como o matagal da montanha
onde a flor suave da campina não medra.
Componho poemas como quem estranha
a própria sonoridade das palavras
não sabendo mineirar do pó o ouro
que escorre enganoso das lavras.
Minha dor, no entanto, não esconde o tesouro
de sentimentos profundos que explodem
em ódio, angústia e desespero
a ofuscar o brilho de minhas próprias palavras.
BH 29.10.75
Nenhum comentário:
Postar um comentário