(Durer: apolo e diana)
queimemos todas as bíblias
joguemos ao mar alcorões e cabalas
destruamos todos os templos
é preciso dar um basta aos deuses
venham eles de onde vierem
não tenhamos contemplação
com aqueles que pregam mentiras
em nomes desses profetas incongruentes e mesquinhos
calemos suas vozes para sempre
eles - os profetas com suas barbas podres -
não trouxeram nada
de bom para a humanidade
inútil buscar em suas obras algum bem
enganam
mentem
escravizam
matam
e traem
são seres desprezíveis todos os humanos
que acreditam em palavras sagradas
mas não os condenemos
deixemo-los viver e aprender que a vida
tem mais mistério e beleza num grão de areia
do que toda a sua paupérrima pregação de céus e infernos
do que em todos os templos erguidos
com sangue
com suor
com lágrimas
para eternizar um deus que não cabe em si mesmo
cuspamos na cara dos deuses representados
como caricaturas deles mesmos - eternamente humanizados
como rascunhos de forças que não existem
os ventos do deserto são apenas os ventos do deserto
não trazem epifanias para fanáticos embrutecidos
por hóstias e virgens de paraísos de fogo-fátuo
não precisam de muros e lamentações os ventos do deserto
para soprarem sempre com fúria ou com ternura
não há o dedo de deuses obtusos na queda de folhas
nem nos desígnios dos homens
há somente mistérios na natureza
quando não abrimos ainda o seu livro
nem deciframos os seus códigos
olhemos para o espaço e contemplemos o passado
nas estrelas que brilham em distâncias de anos-luz
sejamos céticos sempre em relação aos pretensos deuses
e deixemos que se cumpra em cada um de nós
a natureza com sua ciência e seus mistérios
sim, destruamos os vestígios de deuses,
na mente dos homens e das mulheres,
na vida do homens e das mulheres,
não precisa o ser humano de livros sagrados
que não sejam os signos de seus passos
em cada marca na estrada da história
mas espere, os deus são tão inúteis
e são tão obtusos os seus profetas que...
não, não é preciso queimar bíblias
não, não é preciso destruir templos
não, não é preciso perseguir os pregadores
não, não é preciso cuspir nos profetas
basta que lhes demos o devido lugar
no panteão da estupidez humana
e deixemo-los para sempre
fossilizados nas pedras do tempo
mortos dentro de nós
encontrarão na eternidade do tempo
a tumba de onde nunca deviam ter saído
11.5.2015