Covardia
(martin van maele)
Pego
o telefone e disco o teu número.
O
fone toca
na
casa distante de um jardim de minha memória.
Alguém
atende: serás tu?
Desligo!
Covarde,
desligo o telefone,
antes
mesmo de ouvir tua voz
do
outro lado da vida a dizer-me
um
simples e simplório alô.
E
nesse não gesto de encontrar-te,
enlouqueço.
E
nessa palavra que não ouvi,
desencarno-me
e lanço-me
em
loucas memórias
de
sonhos que não vivi,
de
pedaços de vida que não sonhei.
Construo
em mim o castelo
de
poetas loucos
do
século dezenove,
para
projetar em ti
um
sonho futurista do poeta louco do dias de hoje.
Sou
sombra de mim
a
projetar no passado
o
futuro de ti
no
presente de sombras e loucuras
bem
no meio de um tempo
em
que não estás.
Sou
apenas o não ser
da
vida louca de tempos que não mais hão
de
projetar o que sou
no
tempo de não ser, porra!
17.7.96
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