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o tempo
(Duarte Monteiro - solidão)
há dois tempos, o tempo pequeno
que dura o tempo de um piscar de olhos,
da queda de uma folha,
do breve alongar de uma nota musical,
de uma paixão inescrutável,
de um grito de prazer ou de dor,
esse tempo não conta, é o tempo vivido,
o tempo que nos conduz ao centro de nós mesmos
mas há outro tempo,
esse, mais terrível, consome nossa pele,
amolece nossos ossos,
escurece nossos olhos,
delonga nossos passos,
é o tempo dos meses que passam,
dos números que marcam
na folhinha da parede
cada ano que perdemos
num atroz e decisivo anseio,
esse o tempo que nos leva
escolha o seu tempo, meu amigo,
escolha o seu tempo, minha amiga,
e fiquem nele, não olhem para trás, deixem
que cada um faça o seu trabalho silencioso,
pois o tempo pequeno é também o tempo do gigante
e o tempo do gigante coabita em nosso peito
em cada batida de nosso coração
inexoravelmente
inexorável
não lutem o mau combate contra o tempo
seja ele qual for:
nosso destino de mortais traz ao tempo
o prazer de nos ignorar
porque, afinal, tudo o que vivemos,
tudo o que sofremos ou amamos
tem o dedo do vento
e o dedo do vento é apenas o lento
e oportuno destino
de cada lágrima que nossos olhos
produzirem
inexorável
inexoravelmente
como o tempo a nos roer
como o tempo
o tempo
tempo
25.7.2013
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