26 de fev. de 2016

ARMAR-TE É TRAMA

23  


pedido ao tempo



(Bernadeth rocha - caçador-de-sonhos)




Amigo, faça-me um favor:
vá até a velha cidade perdida,
há lá uma praça, na praça uma tipuana,
suba a alameda ao lado dela
logo depois do coreto,
à sua esquerda: um banco, talvez seja um banco novo
- não importa -
faça de conta que é o velho banco de cimento
de assento curvo e o nome do doador
já quase apagado, no encosto;
vá lá, por favor,
você ainda vai encontrar um pequeno grupo
de rapazes
todos muito jovens, todos muito pobres,
todos repletos de esperanças.
Entre eles estou eu:
fácil será reconhecer-me,
já que sou o mais falante
e aquele que mais claro tem o brilho no olhar,
bata no ombro desse jovem - que sou eu -
e diga-lhe, diga-lhe para olhar para o alto,
para o alto das velhas palmeiras imperiais
e manter por alguns segundos o olhar
naquele céu recortado de folhas verdes,
para fotografar na retina da memória,
para sempre, aquela nesga de azul,
porque, amigo - e você deverá dizer isso a ele,
ao jovem que sou eu - que ele nunca mais
terá de volta aquele instante da mais pura

e efêmera felicidade.


s/d

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