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degraus
a subir
(Kris Kusksi)
há ainda degraus a subir
e pode-se gastar para alcançá-los
todas as forças que a vontade de viver
arranca do fundo de nosso suspiro
a vida se eleva do nada para lugar algum
somos os náufragos agarrados à escada de cordas
de um navio fantasma à deriva
e as ondas que batem no casco desse barco
apenas aceleram nosso desespero por uma causa
não há ilhas
não há portos
não há nem mesmo um simples trapiche
onde possamos descarregar
nosso esqueleto roído pelas ondas
alçamos voos cada vez mais
curtos
fugindo aos pássaros negros
que nos bicam a carne
lá embaixo
na escuridão das águas
tubarões esperam apenas o
fim do cansaço
somos o repasto amargo de
muitas espécies
flutuamos como sombras em
torno de nós mesmos
e o navio fantasma apenas
balança ao sabor das ondas
girando ao redor de seu
próprio eixo
sim, há ainda degraus a
subir
mas não há mais forças para
alcançá-los
somos os náufragos de nós
mesmos
afundando com o navio cujo
casco
desde há muitos séculos
esteve sempre condenado
corroído de buracos
longamente desenhados
por nossos próprios dentes
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