penso que poderia
entrar num total desvario
e mostrar todo o meu ateísmo
numa noite de lua nova e muito frio
penso que poderia
sorrir um sorriso de doce ironia
e sentar a pua
nos deuses do olimpo e sua periferia
penso muito como gostaria
de soltar minhas diatribes e meus miasmas
dançar a dança de fantasmas
para invocar o belzebu
numa total euforia
como se tivesse o diabo como parceiro
- seria isso o mesmo que mandar deus tomar no cu
depois dizer bem alto como esse feiticeiro
esse deus que todos cultuam
tem um sido um grande carniceiro
a exigir de cada crente idiotizado
mais do que um sinal de devotado
um sinal em dinheiro transformado
para entrar na sua graça
e à custa de cada desgraça
exigir que ergam para o espaço
catedrais e templos que custam bilhões
bilhões de dólares e de sangue
que deixa o povo idiota mais exangue
sem quaisquer outras condições
que não acender na pira o fogo
onde se queima – como um pérfido jogo –
toda possibilidade de rebeliões
quero sim
debochar desse deus que todos os cristãos
cultuam à custa de suas vidas
- fantasma que nunca ninguém viu –
que cresce à custa de muitas feridas
esse deus que eu mando agora
a puta que o pariu
porque sei que ele só existe
- e persiste –
como fruto podre
da louca imaginação de quem enriquece
erguendo templos para o nada
enquanto a turba se ajoelha
ergue os braços numa prece
esperando milagres de fancaria
esse deus absurdo como uma girafa de dois pescoços
mais absurdo que um grifo de jardim zoológico
esse deus idiota e idiotizado pelos profetas bíblicos
a descer o cacete nos inimigos
a abençoar incestos e sacrifícios humanos
esse deus que flutua em cima de uma nuvem de gafanhotos
cultuado em templo de ouro e prata por todos os escrotos
esse deus urubu zeloso de sua carniça
que exige orações e salamaleques
esse deus eu quero sim esculachar
e desejar que ele se exploda no inferno abissal
de todo o esquecimento humano para que um dia afinal
seja declarado para sempre o ateísmo total
27.3.2021
(Ilustração: Andrei Posea - Lilith)