15 de abr. de 2016

já estão entre nós os bárbaros



(Gottardo Ciapanna)




digo melhor:


sempre estiveram entre nós os bárbaros


sentam-se à mesa como amigos


parentes ou convidados


comem de nosso feijão


bebem de nossa cerveja


reclamam que não está tão gelada


outros até bebem do nosso vinho


vão às compras com nossas mulheres


vão ao futebol com nossos maridos


acompanham a novela das nove


uns até gostam de teatro


e leem de vez em quando um livro


são gentis com cães e gatos


moram no apartamento ao lado


encontram-se nas filas de cinemas


e restaurantes


namoram nossos filhos e filhas


tornam-se cunhados e contraparentes


nem sempre rosnam palavras de ordem


nem sempre chutam nossas canelas


alguns até beijam a mão do bispo


ou deixam-se batizar numa igreja qualquer


levam os filhos à escola


param o carro para a velhinha atravessar


são bonzinhos os bárbaros


tão bonzinhos às vezes


que nos esquecemos de que são bárbaros


não trazem escrita na testa


a sua ideologia


e poucos


muito poucos ousam tatuar


no peito ou na virilha


uma pequena suástica


28.3.2016


(Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, neste link:






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