(Gottardo Ciapanna)
digo melhor:
sempre estiveram entre nós os bárbaros
sentam-se à mesa como amigos
parentes ou convidados
comem de nosso feijão
bebem de nossa cerveja
reclamam que não está tão gelada
outros até bebem do nosso vinho
vão às compras com nossas mulheres
vão ao futebol com nossos maridos
acompanham a novela das nove
uns até gostam de teatro
e leem de vez em quando um livro
são gentis com cães e gatos
moram no apartamento ao lado
encontram-se nas filas de cinemas
e restaurantes
namoram nossos filhos e filhas
tornam-se cunhados e contraparentes
nem sempre rosnam palavras de ordem
nem sempre chutam nossas canelas
alguns até beijam a mão do bispo
ou deixam-se batizar numa igreja qualquer
levam os filhos à escola
param o carro para a velhinha atravessar
são bonzinhos os bárbaros
tão bonzinhos às vezes
que nos esquecemos de que são bárbaros
não trazem escrita na testa
a sua ideologia
e poucos
muito poucos ousam tatuar
no peito ou na virilha
uma pequena suástica
28.3.2016
(Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, neste link:
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