(Foto de Fátima Alves)
Verdes montanhas mareadas
Sonho de liberdades fracassadas
Leito de amores constrangidos
Minas o teu ouro apodrece
Nas latrinas pútridas das europas
Enquanto o teu povo engrandece
Os passos genocidas dos bandeirantes
Minas de gente que dança e alucina
Ao som de tambores e cavatinas
De gente que reza por rosários
De contas marcadas e diamantes
De contos de fadas e tesouros
Escondidos em tuas cavernas
Minas das cruzes e procissões
Teu povo agradece a cada dia
Um deus que inventou traições
Minas de gente que tanto crê
Que até os ateus são católicos
Tuas igrejas barrocas conservam
Ossadas de falsos nobres e mártires
De falsos ouros são os ornamentos
De teus padres que cantam missas
Pelas gastas ladeiras de negros ouros
Minas de grotas profundas
Cavadas com sangue ao pálio das estrelas
Não há mágica nas tuas noites
Quando a lua detalha montanhas
Plenas de verdes e negras memórias
Minas de minas e escravos
Minas de ouro e pobreza
Nos teus rios a cobiça navega
Para os braços de dom Sebastião
E dona Maria a louca colhe jabuticabas
Para a geleia geral da corte lusa
Minas de desejos e beijos e queijos
Alucinados todos pela doçura
De falsas falas e falsos anseios
Desatas os nós da história
Nas pedras do passado
E nos sonhos de grandeza
Por estradas antigas de reis
E negros e traidores e heróis
E guardas teus segredos
No riso escondido de tua gente
Que fia no escuro e se banqueteia
Em mesas de grandes gavetas
Que assa quitandas sovadas
Com polvilho e gema de ovos
De velhas galinhas d’angola
Em fornos de lenha e serragem
Minas de deuses dissolutos
Das noites de grilo e lua
Nos corredores de antigos casarões
De mil janelas vigilantes
Que fingem que olham e não veem
Que teus guardados tesouros todos
Já não estão onde guardaste
E sonhas ó Minas de minha infância
Ó Minas de meus temores e tremores
Que trilhas as trilhas do enforcado
Quando és apenas o velho rascunho
Do aço e da seda de tuas montanhas.
20.4.2016
21.4.2016
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