24 de mar. de 2016

LUPANÁRIO


17


 dignidade?





vamos, digo-te, segurando teu braço
não quero, tu respondes, encurtando o abraço
e então te mostro dinheiro, todo um maço,
olhas com desprezo e chamas-me de palhaço
e então em desespero aperto o passo
para te alçançar talvez num outro espaço
como a tigresa que nas ruas eu caço
e a quem entrego, com nervos de aço,
da minha dignidade o seu último traço




13.5.2013



18    


um só destino





cumpro em teus pelos
o meu caminho
do peito ao pênis
uma só via, um só destino,
eu, salvada do incêndio
da vida,
eu, maltratada a carne
em abandono,
eu trago para o teu leito
o corpo que, se tivesse a marca
de cada outro corpo que o teve,
seria pequeno demais
para a tua cama;
sou a luz que te inflama e te leva
ao precipício;
cumpro em teus pelos
o suplício que queres de mim
e arranco de cada gemido teu
uma pedra por vez, uma pedra
em que tropeçaste e caíste
porque sei que teu caminho,
mais triste que o meu,
compõe-se de terra arrasada
de estrada por todos pisada
trotada por mim e por ti
e agora, aqui, na lama ou na cama,
somos o mesmo pó,
e se me fodes sem dó,
sem piedade te esfolo,
cobrando por cada pelo
negro ou branco
que do teu corpo eu arranco







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