26 de mar. de 2016

LUPANÁRIO

22


trapaça




não me importa o quanto
me sinta perdido

aqui, à luz mortiça da lua,
enquanto
com meu melhor terno vestido
vejo através da vidraça
tua silhueta nua
aceito o jogo e a trapaça
da carta marcada
em tua bunda desenhada
calipígia vênus a te ofereceres despudorada
ao amante que te come e que te paga
enquanto
 - tenso o meu pensamento - penso
que é com o sêmen desse teu amante eventual
que pagas o perfume de meu lenço

25.5.2013








21


sobrevivência





que me importa
a luz mortiça da calçada podre

que me importa
o tropeço do vagabundo no bueiro mal cheiroso

que me importa
o cheiro do crack na ponta do cachimbo do noia

que me importa
a madrugada que vai ou o dia que vem

importa-me apenas
meu amor de crenças impuras
que te agonias na espera
numa kitinete da avenida São João
e que te estrebuchas bebendo
uísque barato e cheirando cola
importa-me que esperes sempre
as migalhas que sobram
daquilo que eu ganho
com as dobras da minha vagina

é por ela, pela grana incerta das noites
de calçadas podres e de vagabundos insones
de crack e noia,
que sobrevivem teu desejo e teu desepero por mim

espera e enlouquece, louco amor,
que a madrugada
já se vai e o sol
amanhecerá em teus olhos vermelhos
com a grana do almoço
e talvez do jantar


18.9.2013

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