28 de mar. de 2016

LUPANÁRIO


25




desalento





abres para mim o teu corpo e
fechas a mente a perguntas
que te faço apenas por
tentar começar uma conversa que
não irá a lugar algum


compreendo-te o pudor


cubro o meu corpo e
enrolo-me no suado cobertor


somos ambos
tu e eu
frutos da mesma sanha
frutos do mesmo irascível desalento de viver


10.6.2013




26     



morre a lua







agoniza a lua atrás
do velho prédio decadente

afasto a perna que me prende
do último cliente
e arrasto-me da cama suja
do hotel vagabundo

do vitrô do banheiro um raio longínquo
da lua atrás do prédio decadente

enquanto me lavo
em nada penso a não ser no cansaço
passo pelos cabelos o pente
retoco o batom nos lábios
visto-me e saio para o resto de lua
que cai ali na minha frente
atrás do prédio decadente

último cliente é o que eu penso
ou não?
ainda há você, meu amor, a contar meus passos
quando caminho pela quase manhã
rumo a teus braços
na rota recorrente
de todos os dias
e se são tão frias as madrugadas
e se a lua ainda vivente
agoniza lentamente atrás do prédio decadente
pode ser você - por que não? -
o meu último cliente


3.10.2013


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