29 de mar. de 2016

LUPANÁRIO

27


último cliente





sou o último cliente, tu me dizes,
e vejo que somos ambos felizes
por mais um encontro sem razão

tu me salvaste a noite já quase madrugada
e eu te dei o que faltava para o pão
embora saiba que de pão não vives
nem com ele alimentas os filhos que não tens
somos apenas sobreviventes cansados
ruminantes de runs mal apreciados
dormentes de um trilho enferrujado
coberto de mato pedras e lembranças
por onde passam todos os trens
por onde trafegam todas as desesperanças

não, não sou teu último cliente
sou teu último alento, tão somente



10.6.2013








28


não sei se te amo





não sei ainda se te amo
ou se apenas sigo o instinto que me leva
a exigir de cada homem que a mim se entrega
e que me come
que pague em grana corrente
cada estocada de seu membro em riste
sei que não fico contente
nem muito triste
em ser como sou,
porque, amado meu, sou aquela
que se acostumou
para infelicidade tua e minha
a ter um olho no gato
e outro na sardinha

por isso, não sei se te amo, não sei,
apenas colho de teus olhos
a esperança de um raio de sol,
para a semente que um dia
tu mesmo plantaste em meu peito,
a semente do meu girassol


3.10.2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário