Da minha vida o velho paul
emana cinzas e miasmas:
de sob a fumaça azul,
liberto todos os meus fantasmas.
Rostos tantas vezes queridos,
corpos, olhos, seios, bocas,
momentos intensamente vividos
em dias e noites de ânsias loucas.
Das cinzas surge a saudade,
dos miasmas um grito de dor;
visões, visões da pouca idade
em que se cria num puro amor.
Os teus cabelos voam ao vento,
os teus olhos brilham à luz da lua;
uivam molossos num só lamento,
enquanto te sonho tão bela e nua.
Foste tu dentre tantas
quem tocou meu coração;
se das brumas tu te levantas,
meus olhos não te negarão.
Vem, pois, do passado ao meu futuro,
salva do pântano a minha vida,
que eu, mais uma vez, te juro
retomar a estrada outrora perdida.7.1.91
(Ilustração: Ray Caesar)