cacos de espelho refletem
pedaços de vida:
não sei se cada caco contém
uma vida inteira em pedaços
ou pedaços inteiros
de uma vida partida;
sei que apenas os contemple
mudam-se em calidoscópicas cores,
tornam-se vidas em sombras convertidas,
tornam-se sombras as vidas repartidas
e como tenazes agarram-se às dores
todos os amores que não vivi,
no centro da espiral em movimentos loucos
a solidão metamorfoseia-se neste verso:
“a drop fell on the apple tree”
e chamo miss Dickinson em gritos roucos,
que há tempos prendo no meu coração,
para juntar os cacos dessa profunda solidão.
22.5.90
(Ilustração: Malevich)
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