Faz muito tempo já
que pensei num poema que falasse
de todo o meu espanto
diante do mundo.
Pensei-o forte e com ódio no coração.
Busquei até mesmo o compasso binário
de tambores de guerra a marcar o ritmo
de rimas em “ão”.
Desisti, porém, do louco poema,
ao perceber a armadilha de meus sentimentos:
pensando combater o ódio,
lançava centelhas de ódio em forma de versos.
E o bom-senso prevaleceu:
esqueci o batuque frenético da metralhadora
e troquei-o pelo espanto.
Apenas o espanto do mundo.
Nada mais que o espanto do mundo
é suficiente para expressar
o espanto do mundo.
O resto é ódio.
E ódio não é filosofia.
Tampouco o é a poesia.
15.2.91
(Ilustração: Malevich)
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